Dor, celebrada dor dos augustos seres partidos ao meio, os
empoeirados potes de vidro, recipientes feitos para um bela flor.....imensa
flor, dos teus lábios arrancada, a flor da minha dor, dos teus lábios
retalhada, a cor desse flóreo incorpóreo masoquismo incolor...
Os beijos de sangue tão corpóreos, e os indícios de uma alma
incomensurável a cada pétala da flor arrancada, carpida, retorcida, estraçalhada.... pétala
que não me quer, bem me quer, mal me quer, como jamais pudeste pensar que
serias minha mulher? Flor da imensidão, frente a mim, fantasma desfigurado de uma ópera falecida,
retalhado, como jamais poderia eu sublimemente permitir-me ao etéreo amor?
Quando o que sobraste de meu rosto, antigo alvo de esplendor, não reflete
sequer um lastro humano de remorso e de singela humana dor, neste agora imenso, quando choro teus perfumes,
tuas lágrimas de flor, quando devoro os teus sonhos todos , como um poeta
blasfemador?
Oh, Santo Cristo Imperador, me condenai! Como posso assim tão férreo
responsável ser de uma alma o vaso
constritor, se tudo que devia ter feito era no próspero vaso posto a flor? O vaso que me destes,
depois de tantos pedidos oratórios, súplicas de doido amor, a ânfora em peito, que bate o
teu invisível calor, meu anjo transcendental, do poeta o sofredor, meu amo sideral, dos
versos o penhor.... Impenhorável sentimento é esse tão gritante, gigante
desesperador, jamais choraste abundante tanta alma o sofredor, enquanto o mar
urgia , enquanto as folhas caiam, e na pele ardia as marcas de uma mordida tua feita aos flocos de neve ao cume do sabor.... enquanto eclipsavas o mundo com teu inexplicável sorriso e o
outono nos teus olhos desabrochavas como um verão dentro de mim, o inverno febril incendiado pelo fogo do nosso Chalé era suspenso pelos penhascos perdidos no secreto mais longínquo do paraíso ainda perdido nesse mundo...desse Amor, sublime Amor!
Como posso querer que ainda te cales, quando de meus gritos somente uivos e gemidos, urros de tanta dor...a
dor de perder sempre, sempre o ser perdido, a cada momento de memória, a cada lembrança na paisagem interior, perdido o
teu silêncio e a voz do teu amor....
Oh gigante além dos montes e dos vales, poeta sofredor,
Oh gigante além dos montes e dos vales, poeta sofredor,
Me arranque das antigas corjas, dos antigos ninhos, do
hospício traidor, e me
Conduzas pelo meio do caminho de uma invejável paz onde nada
atormente-me o ente, nada arrebente nada, acalente somente a fenda de um infinito sentimento protetor!
Faça da certeza desse algo maior o meu escudo vencedor e me guie para onde as ondas são pacificas, para onde o Sol reluz
sem a angústia do jamais a cada resplendor do magnífico pôr do Sol de todos os dias que nos unem, e que nos separam, para hoje e para sempre!
Profeta dos meus sonhos, me leve para sempre daqui, pois
como conseguir vencer quando tudo que me cerca é passado e vertiginosa ruína...ou
será que cego nao consigo ver mais os sonhos nessa cidade da decadência? Esse símbolo do terror!
Será
que sem olhos ainda consigo caminhar pelos cantos floridos do
mundo, e da carne de teus lábios, risonhos, morder a flor? Meu muso inspirador,
para onde foste tão coberto de mágoas dolorosas, as chagas de uma rosa que
sempre te espinhou...
Espinho este tão severo que sempre te sangrou!
Em, para onde
foste meu querido beija-flor?
Pois agora cada vez ao despertar, não te vejo no
jardim...numa parte elementar brilhante e vazia desabitada dentro de mim....
Para onde se entranhou
, nesse mundo onde além de nós, de um só junto de outro só, não existe nada
mais além de uma treva apavorante e um triste silêncio de frieza insondável, extremamente angustiante, que se instala como um diáfano véu sobre o rosto de todas as faces que nos tocam, e nos visitam, impenetrável e assombrador!!! O rosto pálido da morte sobre o vazio inescrutável de um partido vaso
sem flor!
FC
I LEONI
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