sábado, 16 de maio de 2015

MORTE EM VENEZA



Embocadura do começo do mundo, onde estais? Se não posso atingir o fim com meus olhos abertos, como voltarei para o próximo início..., sabendo já que não posso me lembrar?
Esquecimento atroz de tudo cercado pelo humano criado em nós, tudo é pensamento, tudo ao redor de mim breve e visceral....


Tudo que não soa imortal em nós me faz querer viver para sempre,
Tudo que não me segura mais do que as estrelas fixas no céu de todos os dias nascentes, me faz querer ser mais do que um frágil humano morrente... ser mais do que nós! será mesmo que teremos que morrer para saber o que é ser vivo , ou o que foi uma vida inteira sem a morte? Será que sou tão pouco otimista, ao ponto de não perceber que vida existe sem morte porque ela não está aqui agora, nos matando compulsivamente!? ou está, e sou eu que sou demasiadamente inocente para não pressenti-la  a cada instante ao meu redor, com seus caninos vermelhos, esperando a brecha fatal? Talvez  ainda não tenha envelhecido o suficiente para me conformar com o imutável gosto da madeira do cada vez mais próximo serial killer “china in box” para todas as últimas santas ceias, as que comemos em baixo da terra?

Será mesmo que precisaríamos ter que deixar tudo isso para trás para sabermos que existe mais do que pó e folha, mais do que coragem e medo, e desejo... mais do que luz quando a noite dorme dentro de nós....no peito apertado, doído de tanto sorrir, e de tanto chorar... Por que? Para completar o ciclo? Por que? Por que é assim e ponto final... e se fosse diferente? E se fossemos desde sempre eternos, literalmente, iríamos estar querendo morrer algum dia? Iríamos estar sequer  discutindo sobre a mulher de túnica negra de cabelos brancos com sorriso de névoa e pele de mármore? Inventando romances, religiões, seitas e filosofias, criando ordens, personagens mortais, vampiros que sugam o sangue para se manterem menos vivos porque estão atormentados pelo tédio de ter que existir para sempre...! sempre retornando a  raciocínios incríveis para justificar o término súbito da nossa naturalíssima vida eterna? O suicídio sócio-natural? Iríamos desenvolver pensamentos para nos matarmos em massa, coletivamente, detonado uma bomba atômica no final das comemorações olímpicas, radioativas, com ingressos caros e estádios lotados? Atentados terroristas no formato de espetáculo?  Iríamos mesmo comemorar o nosso fim? Chorar de alegria? Dar uma festa? Será que nos faltaria tanta criatividade assim ao ponto de não nos sustentarmos para além do infinito? Será que nosso amor iria acabar? Não, acho que não! Se somos o que criamos, e criamos a eternidade, então, nós somos, no mínimo, eternos dentro de nós... Que isso baste por enquanto, pelo menos para silenciar os ruídos... o ranger dos ossos envelhecidos, o estalar da cadeira de rodas no assoalho, o atrito da borracha das muletas contra o piso de pedra, o tombo súbito do exagero sobre uma mesa de cirurgia...a inaudita overdose da vida!


Será que temos que brincar de sermos mais do que humanos para sermos menos mortais do que um simples pássaro voador? Um tigre da neve...um amor em extinção? Será mesmo que vamos conseguir morrer de verdade, do jeito que queremos, do jeito que pensamos ser? Idealizamos tudo que nos toca, principalmente a morte! Será que vou te ver amanha além das nuvens, vestida de estrelas brancas, caminhando sobre os penhascos do infinito, como um anjo delicado e maternal, misturada com os planetas do universo, com a poeira cósmica sideral dos nosso sonhos? Será que teremos que morrer uma única vez para sermos imortais de verdade?

O brilho dos astros, os cometas dos teus olhos, a eternidade dos teus sonhos...tudo isso passa, e nada mais!, o resto fica, os ossos, as pirâmides, as montanhas e os tijolos de barro...

Dentro de mim uma solidão imensa que espera o sol se pôr... talvez seja esse o buraco que carregamos na barriga, o abismo no ventre...e que tapamos com as inúmeras peneiras das meditativas ações quase paliativas, placebos que aliviam  a verdadeira vontade de eternar-se no mundo, juntamente com a certeza de que essa experiência seja maior para o nosso espírito do que a ideia de que ele seja somente dissolvido miseravelmente juntos ao humos alimentador de minhocas rastejantes,  quando no mínimo, com um pouco de sorte, ele possa ajudar uma esverdeada oliveira crescer como teus olhos  brilhantes no esplendor da minha memória, saudável, quando morri em Veneza pela primeira vez,  em cima de um Gethsemane qualquer... talvez seja esse o formigueiro que temos no umbigo... o nosso eterno segredo,,, o medo do sol se pôr por dentro, inadvertidamente, quando todos os grãos estão para germinar, e não nascer nunca mais pro amanhã, nem hoje, nem agora...!!! Oh meu Deus, Vida, deixe-me flutuar como uma pena, leve e inocente, para o Sol poder nascer amanhã, e depois, e depois, e depois....


 FC


Um comentário:

  1. MEU TESOURO , VOCE TEM VIDA, DEIXE O SOL EXPANDIR DE DENTRO DE VOCE, E , ABRAÇA TEU AMANHECER...... LINDOOOOO .......BJUS DE LUZ

    ResponderExcluir