Pela finestra penetrava o sol, o resquício de dia escorria
pelo mármore da banheira...o gosto de formol das águas lânguidas de nossa lua
de fel,,, ! o mel extraído dos sonhos e o fel dos meteoros caídos do céu!
românticas estrelas confundiam as trevas com o candelabro de prata no corredor
ao nosso lado,,, O Palazzo amaldiçoado!!! Era tempo de se olhar no espelho, arroxeado, tempo de se
mascarar... era carnaval, e podíamos nos esconder atrás das penas, dos
remorsos, das cenas mal feitas da noite anterior, podíamos nos dizer adeus, sem
nos despedir no momento do imediatamente agora...sim, diluir a despedida para
sempre, até não ter mais porque nos despedirmos mais, até não ter mais porque
fingir que não morremos em Veneza naquela primeira e última vez...
Escolheríamos ou pressentiríamos o tempo certo de dizer
adeus graças a intensidade dos sonhos e do tamanho da montanha vista dentro de
nós...Era poder cair do Etna depois de o ter acordado com carinhosas canções de
ninar... sentir o sabor da queda, e a violência de sua erupção na altura da
torre mais alta de nosso castelo de sonhos e recíprocas gentilezas! Como foste
grande, tu que és apenas um menino....como foste um Homem!!!
Fingimos não sentir as águas dos canais florindo podre em
nossas taças de champanhe tão liberais, tão assassinas... não escutamos de
propósito os bélicos sinais, não antevimos as maldições e desprezamos o teor das lendas... elas
diziam para não levar os enamorados para lá... a cidade está afundando sem que
os corações percebam...eles estão demasiadamente ocupados para notarem esses
pequenos detalhes de superficial engenharia!!!! Tudo já indicava o fim, menos o brilho do nosso olhar!! Mas esse
final é extremamente arbitrário, e só vem quando ele quer..., quando se esgota
de recomeçar, de negar-se a si mesmo até o fim!
Estava tudo lá, desde o início, o negrume da peste ainda circundante,
a visível vibrante cor negra mortuária das gondolas funerárias...as canoas de
amor reclusas no fundo da hospedaria, vazias, que nos carregavam feito dois defuntos amantes
sobres as águas cantantes dos canais, o nosso romance flutuante, em baixo das
pontes, cruzando o Rialto e os becos entrelaçados desse labirinto aquático sem
saída... ao redor das igrejas e dos santos....o nosso passear no silêncio
remoto de dois anjos calados! Assustados! Sobressaltados!!! Um bem estar
indescritível, apesar de todos os desmoronamentos, a cidade não afundava, e as
violetas brotavam das floreiras venezianas quando passávamos, e cantavam, cantavam até o fim, como
uma flor dotada de voz.... tuberculosa, datada, mas exuberante até a última
pétala...até o último raio de sol!!! até o último instante de poder estar
respirando compulsivamente ao teu lado como se a vida não fosse feita para ter
um final! Como se o amor pudesse, como a
cidade dos sonhos flutuantes, sobreviver aos séculos, e não afundar como um
barco tragado pelo temporal!!!
A cidade partiu, o sonho acabou... na janela, a violeta
morreu, quando afogada em lágrimas, por
saudades morais sacrificou o seu amor, a sua voz, e a sua cor!
FC
RIALTO
LINDO D++++++++ !!!!! CONSEGUIU RETRATAR A REALIDADE DE MANEIRA LEVE E PROFUNDA......AMEI ......
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