PIERROT APAIXONADO

Oh, mente tua insaciável, incapaz te contentar-te....

Dorme incapaz, e solta-te

Dos laços que te prendem, escute o silêncio e o brilho

Do madrugar-se em ti mesmo, les fleurs du mal,

Gélido rosto sem reflexo, crua nudez frente ao espelho,

Aonde estão todos os amigos

Que sempre nas tardas horas

Jamais tardavam de lhe dar conselhos?

Aonde está teu séquito tão cruel, séquito da morte?

Pois por muito tempo foste somente o triste bobo

Ilustre PAGLIACCIO, o alegre triste bobo da corte? Aonde está

Tamanha corte descortês, aonde está dos javalis as

Presas, depois dos talhos que a ti mesmo fez,

Ilustre bobo descortês

Parta enquanto é tempo de partir com lucidez

Das luzes tão apagadas, as sombrias castelãs que acastelares,

Quantos quarto te sobrares, com qual refúgio te iludires,

Inóspito anfitrião, sobriamente somente aos pares,

Sorriam-te em vão

Quando finita as terminantes carreiras infindáveis,

E as taças cintilantes intermináveis, o que para ti

Sobrou, senão os finos supercílios cínicos

Da amarga companhia de uma previsível solidão?

Parta, antes que amanheça, e seja tarde para repor o

Que perdeste no jardim, tudo aquilo que lhe roubaste,

Pois no fim, eras ti mesmo o pior usurpador de ti,

Aquele que somente sente o mais doente dos amores

Inexistentes, o nada repleto de vazio, o humano

E o frio, de ser talvez, humano demais, sem senso comum,

Por demasiadamente intenso, perdeu o que não era seu, no

Sol que ainda não raiou e já te brilha em louvor!

Pois um palácio construíste com teus pequenos gestos de amor,

Portanto parta, parta enquanto é tempo

Antes que os ratos o habitem!

Parta ilustre PIERROT,

Chorando de alegria!

Parta e ao mesmo tempo ria, ria

Ria mais alto a cada dia

Ria e sorria

Só isso e nada mais

Somente

Ria, ria

E RIA

Minha amada 

COLOMBINA

FC

                                                               COLOMBINA